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quinta-feira, 28 de outubro de 2010

Um design social

             
 
O trabalho de um designer gráfico não se reduz somente ao desenho de uma letra, ao anúncio de um produto, ao desenvolvimento de uma embalagem. A pouco e pouco, o designer sabe que a sua área de intervenção se espraia por outras dimensões que não são apenas as meras execuções das coisas. O designer sabe o seu papel social. Mesmo que o ignore, participa dele.

 Um cartaz anuncia, uma embalagem é vendida, em conjunto com um produto, pelo país fora. Ou até pelo mundo. Sabemos das teorias de informação, de Abraham Moles, e de como um objecto não só comunica as suas funções práticas e úteis - para amenizar as actividades do quotidiano - como transparece funções, por vezes mais subtis e, nem por isso menos importantes: as funções simbólicas, as funções sociais, as funções estéticas, estas últimas, raras vezes inocentes, que podem ditar costumes e impor hábitus. Por hábitus, palavra tão séria partilhada por Bourdieu, sabemos ainda da existência do ser individual, em primeiro lugar resultado da sua construção como indivíduo, em família e, depois, resultado da sua existência como ser social, neste caso quando se encontra em interacção com os outros indivíduos. Por isso procura encaixar-se num grupo ou sociedade, de forma a evitar o sentimento (estado) de exclusão social. Somos o produto de nós mesmos e o produto da nossa relação com os outros. O designer sabe isso.

Cada troca simbólica, também outra expressão de Bourdieu, vincula um movimento de saberes e cultura ou, inversamente, o seu aviltamento ou alienação. Em cada grupo, ou sociedade, observamos as contaminações de outras culturas, a circulação de bens culturais e a sua apropriação. Não se pode falar de uma cultura, mas de uma diversidade de culturas. Que em maior ou menor escala coabitam, difundem, chocam ou transformam.

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